A formação de hábitos
É fundamental que pais reservem tempo para diálogo com os filhos; assim os conhecem melhor
Alguns pais matriculam os filhos em escolas onde há Educação Infantil, para que tenham iniciação à alfabetização. Pelo fato de a criança de quatro ou cinco anos estar freqüentando a escola, seus pais têm preocupação de que iniciem logo a alfabetização, aprendam a ler e a escrever o nome. Não somos contrários a essas ideias, mesmo porque há crianças nessa idade que chegam às escolas sabendo escrever o nome, com nível de conhecimento e inteligência bem desenvolvidos. Entretanto, antes de ensinar à criança escrever, há necessidade de desenvolver nela o esquema corporal, lateralidade, coordenação visomotora, relação espaço-temporal, o que vai favorecê-la na aprendizagem da leitura e da escrita.
Nessa época, o mais importante e pouco valorizado na educação das crianças, independentemente da classe social, é a formação de seus hábitos e atitudes.
Diz o ditado que "educação vem do berço", contudo observamos que algumas crianças chegam às escolas sem esse atributo, circunstância que implica tarefa dobrada para o professor.
Que hábitos e atitudes estão fazendo falta a nossas crianças? Eis alguns pontos que consideramos fundamentais na educação.
- Cuidar apenas dos hábitos de higiene, como tomar banho, e vigiar se o está fazendo corretamente, pentear os cabelos, lavar as mãos antes das refeições e escovar os dentes não é bastante. É preciso ensinar à criança ter hora para tudo, hora certa para as refeições, dormir, brincar, assistir a programas da TV – isso é disciplinar a criança e formar hábitos.
- Ensinar a falar a verdade, modificando tendências ou hábitos de mentir com intuito de fugir de uma repreensão é fortalecer o seu caráter. É nesses momentos que os pais devem interferir para corrigir os filhos, mostrando-lhes o que está errado, explicando sempre por que não devemos fazer isso ou aquilo, não esquecendo que os exemplos dos adultos, suas atitudes e hábitos são observados e assimilados pelas crianças com facilidade.
- Desenvolver na criança o hábito de ter responsabilidade com as pequenas coisas inerentes a ela e que possa fazer, como arrumar a cama ao se levantar, cuidar de seu material escolar em casa e na escola, guardar seus brinquedos no lugar certo são alguns exemplos. Isso não é explorar a criança, mas educá-la para saber valorizar o que tem. Assim, mais tarde, quando adulto, será zeloso, cuidadoso, e naturalmente esse comportamento se refletirá na sua vida familiar e no trabalho.
- É fundamental que os pais reservem sempre, no lar, momentos para dialogar com os filhos. Essa é uma forma e uma oportunidade de conhecerem os pensamentos, as idéias e os sentimentos dos filhos para, então, com carinho, fazerem as interferências necessárias, moldando-lhes o caráter, a personalidade, o que contribui também para que a criança saiba ouvir e conversar sem gritar.
- Educar o filho é ensinar-lhe a saber esperar quando o que deseja no momento não pode ser atendido, e dizer não e sustentá-lo, sem medo ou receio de que ele fique zangado, magoado ou revoltado, pois tudo isso passa. A criança é um serzinho inteligente e observa tudo. Se não houver pulso firme, elas fazem, por meio de pequenas 'chantagens', o que querem dos pais, impondo-lhes suas vontades.
- Os filhos sentem necessidade de ter alguém que os conduza e lhes imponha limites, que os faça sentirem-se confiantes, tranqüilos e seguros a seu lado. Com isso aprendem a obedecer ordens. As crianças que não estão acostumadas às regras e disciplina no lar, quando chegam à escola, estranham muito, porém aos poucos o professor vai fazendo-as habituar-se às novas regras, levando-as a mudanças de comportamento.
- É muito comum crianças com menos de sete anos de idade apresentarem tendências egocêntricas – "eu sou o melhor de todos", "eu prá tudo", "eu eu sei", "eu que falo", "eu quero ser o primeiro", "eu sou o melhor". Compete aos pais e professores mostrar à criança, de forma carinhosa, que ela não é a única e fazê-la entender que as outras crianças também têm direitos e vez.
- A criança encanta pela sinceridade, pela simplicidade e naturalidade de seu olhar, do sorriso, das gracinhas que faz. Nessa espontaneidade ela mostra suas qualidades, seu nível de entendimento, sua personalidade, tendências e suas imperfeições, pois os espíritos que ainda encarnam neste planeta vêm em busca da sua evolução, por não serem perfeitos, cabendo aos pais observar e educar os filhos de acordo com as necessidades de cada um, devido às diferenças de temperamento e personalidade, ou seja, uns são mais dóceis, compreensivos; outros, mais rebeldes. Para uma boa educação não podemos olhar somente as qualidades e ignorar os erros, as falhas que naturalmente a criança expressa.
- Devemos ficar atentos a tudo, não para humilhar ou castigar excessivamente, mas para enaltecer as qualidades e corrigir as más tendências.
Educar é muito difícil e dá trabalho, porém quando a educação é bem administrada desde a infância e com início no meio familiar, certamente haverá bons frutos no futuro. Como diz o ditado, "educar a criança é gravar em mármore".
(A autora é educadora)